Monday, January 4, 2016

Sobre a montanha de lixo virtual de Copa e a massa de porrolho vermelho de Tilburg


Boa noite! :)
Começando o ano já quebrando umas das resoluções de ano novo... 
Sobre essas fotos que muita gente compartilhou comparando Miami e Copacabana no dia seguinte.
Não moro em Miami, tampouco moro em Copa. Morei até meus 28 anos em Niterói e hoje moro em Tilburg, na Holanda. Em um misto de saudosismo e masoquismo, acompanho "minha terra" pelos posts dos amigos nas redes sociais e sites de notícias. O mesmo em relação ao resto do mundo. E quem hoje em dia faz diferente, não é mesmo?! Enfim, desde o dia primeiro o tal post "Copa x Miami" está sendo compartilhado à exaustão na minha timeline e, claro, isso chamou minha atenção - até porque muita gente que compartilhou é do Rio -, mas, especialmente, porque eu nunca tinha visto Copacabana (ou o Rio) nesse estado em um "dia seguinte".Por "nunca" leia-se: "desde que eu (Fefa) me entendo por gente".
O meu espanto e sensação de "ah, não acredito! Até isso vai mal?", num instante de pessimismo agudo, passaram ao descer um tantinho a timeline e ver duas fotos compartilhadas por um "primo-torto" muito querido, Antonio. Ele que, por ironia, é Europeu e vive há anos no Rio, foi dar sua primeira corrida e mergulho de ano novo e dividiu (obrigada!) com a gente um dia (manhã!) de praia, sol e mar e o "dia seguinte do réveillon" (ou "dia mundia da Paz)". Seguem as duas fotos: 


"Temperatura e cor do mar do caribe, primeiro mergulho do ano"
"Temperatura e cor do mar do caribe, primeiro mergulho do ano", © Antonio Manuel Sa
E o que vemos aqui nessa primeira foto? Justamente o que a legenda diz e areias branquinhas, varridas... Um presente para os cariocas e turistas entrare o ano bem, como devem e me deixar aqui de longe com uma saudade "monstrengosa", cheia de vontade de estar ali. A segunda foto, bem, ela não mostra o "que azul de céu, que verde mar", mas:
"Impressionado com a Comlurb, 9:30 e Copa está um brinco!", © Antonio Manuel Sa
Então, gente: de acordo com a legenda, as fotos foram tiradas por volta das 9:30 da manhã do "dia seguinte"... Nove e meia da manhã do dia primeiro de Janeiro de 2016, praia e calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil. E na foto? Um paredão de containers, uma frota de caminhões coletores... Cariocas e turistas aproveitando da melhor forma... 

Eu tenho o "péssimo hábito" de confiar mais nos relatos e nas fotos tiradas por gente que eu conheço, do que nos posts compartilhados. A limpeza exemplar dos locais nos "dias seguintes" sempre foi uma das coisas boas do Rio. Palmas para a Comlurb e os Garis que, há anos e governos diferentes, fazem um trabalho incrível para manter o mínimo de ordem e "salubridade" para nós no durante e deixando tudo limpo no depois. Muito limpo. Talvez sejam os dias do ano em que os locais estejam mais limpos (misto de orgulho e vergonha ao escrever). Compartilhar essas imagens, para mim, é no mínimo um desrespeito com esses trabalhadores que dão um duro danado. Sim, eu sei, é o "trabalho deles" (a propóstio, não concordo de forma alguma com essa mentalidade), mas o fazem com perfeição e dedicação. Ou não?!

Já que as tais fotos compartilhadas foram usadas para comparar EUA e Brasil, vou comparar o que vi aqui em Tilburg (Holanda, Europa) e o que vi no Brasil. Desculpem. Se o assunto é réveillon, comecemos por ele: a prefeitura da minha cidade fez um apelo no Facebook (aqui) para o que chamaram de "varrida de ano novo". Oi? Pois é. Varrida, vassourada, mutirão de limpeza com vassoura,..., de ano novo. Para que os moradores se esforçacem um pouco mais em limpar a frente de suas casas (calçada e rua) no dia primeiro de janeiro;  especialmente a sujeira deixada pelos fogos de artifício. Oi? Sim. Aqui eu e você podemos comprar fogos dignos de Copacabana e soltá-los no quintal, ou na frente de casa durante a virada. 

Prática essa bem comum, e intimamente ligada ao vandalismo (sim porque a molecada babaca aproveita e se enche de rojão e cabeção de nego e sai pelas ruas dia todo fazendo barulho e explodindo tudo e mais um pouco). Diferente da prática a qual o tal apelo da prefeitura se referia, essa aparentemente nada comum: depois do fogaréu, a sujeirada fica toda ali mesmo, onde quer que a pessoa tenha soltado. Esses restos de papelão e palitinhos com a chuva, neve e afins viram uma melecada, tipo uma camada de "porrolho" vermelho e marrom nas ruas e calçadas com uns pontinhos coloridos aqui e ali. A prefeitura, na tentativa de estimular a "prática" (veja bem: eles pedem que cada um faça o favor de limpar sua própria sujeira), não só indicou em qual lixeira a bagunça deveria ser jogada (aqui cada casa tem dois containers - lixeiras tipo dos Garis - duplos num total de 4 partes diferentes: plastico/metal/tetrapak; papel; organicos e restos. Jogar na errada é risco de advertência e, depois de 3, multa de uns 90 eurocas), como também disponibilizou carretinhas e material de limpeza que, no caso, seriam até recolhidos pela empresa responsável depois. Ou seja: só tinha que limpar o que sujou e em frente de casa. Nos comentários coisas do tipo: limpo se vocês vierem limpar as folhas que caíram das árvores da rua no meu quintal. 

Algum resultado deu porque achei mais limpinho do que de costume (ou quis achar). Mas, ao levar o filhote na escola de bicicleta, passei ainda por ruas cobertas pelo mar de "porrolho vermelho". "Ah, mas peraí, comparar limpeza de milhares nas praias com a de cada um em frente de casa?" Sim. Quem suja? Alguém. Se esse alguém levasse seu lixinho até a lixeira, pra casa, limpasse a calçada da frente... Mas, beleza. Isso é outra discussão. 

Fato é que, aqui, a sujeira dos fogos (e que é a sujeira das ruas no ano novo) costuma se arrastar por um tanto; e não só nos centros das cidades onde o povo acumula, como nos bairros residenciais. Nos centros eles até passam aquele caminhão elefantinho depois da farra. Mas o mar de copos plásticos e xixis de cerveja (mesmo com risco de multa e detenção e com todas as lixeiras e mictórios disponíveis) existe. E o volume é enorme. Porque destaquei o depois? Apesar de no Rio a força-tarefa também agir no depois, existe também o durante. No carnaval de 2010, centro do Rio de Janeiro, meu marido gringo aponta no meio do bloco um outro mini-bloco. Os garis! Vide o "Sorriso" na Sapucaí. Sim, durante e no meio da muvuca, já limpando, recolhendo o lixo que os Cariocas e turistas iam espalhando. As lixeiras enxiam em segundos e também as ruas e meios fios. O que chamou a atenção do meu marido não foi só a alegria, o fato que eles estavam cantando e uns até dançando, mas o fato de que estavam sistematicamente passando durante o evento. Isso não acontece aqui. Pelo menos eu nunca vi. 
Carnaval 2010, centro do Rio. "A Paulistinha". © Fefa na Holanda.


Vou ficando por aqui ainda sem muito entender (ou não querer) o porquê da comparação por trás dessas foto(?); da razão em se comparar Copacabana e Miami(?) e usar fotos que não condizem com o dia primeiro em Copacabana(?).
Quebrei uma das minhas resoluções que é "absorver menos", outra que é "não me envolver demais" (relacionadas), e ainda "falar (escrever) menos". Mas mantive a de "segurar a ansiedade" e a de "checar antes/mais" (o quanto possível). :) No mais, um feliz 2016, que ele já esteja cheio de boas energias.
Beijocas. 

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